Ela não queria mais nenhum contato com o mundo lá fora. Foi ela mesma quem disse isso, quando decidiu se isolar naquilo que ela chamava de “sala de estudos”.
Ela só estudava. Era compreensível, afinal a enciclopédia jurídica é extensa e complexa.
A mãe parou de incomodar os seus estudos com lanchinhos e recadinhos, não lhe batia mais a porta.
O smartphone jazia sem bateria, caído no lado oposto da cama, sobre o tapete felpudo.
Na tela do computador apenas word, nas abas alguns sites de pesquisa e mais nada. Sobre a mesa um caderno com rascunhos, livros surrados, e canetas manchando a toalha branca.
Ela não lembrava mais que o mundo existia.
Então, depois de uma longa hibernação intelectual, a garrafa d’água vazia. O inconformismo de ter que conduzir toda a carcaça curva até a cozinha, e reabastecer a garrafinha. Depois da porta do quarto o corredor, depois do corredor a sala, depois da sala a cozinha.
E por uma ironia, dessas que os deuses deixaram nas escrituras da vida, aquela pequena “sala de estudos” era a única edícula no mundo onde a vida ainda existia.
Ela caminha por aquilo que fora uma casa um dia, achando que ainda existe uma pia, enche d’água uma garrafa que se mantém vazia. Volta automaticamente para seus estudos.
De alguma forma ela se esqueceu do mundo.
COMENTE!