Eu gosto da chuva, e gosto muito dela.
Tem uma infantilidade que chuvisca com os primeiros pingos.
A chuva revela o cheiro da terra, o cheiro do mato.
Quando ela chove com o Sol, é casamento de espanhol.
Quando o Sol raia com a chuva, é casamento de viúva.
É verdade que ela cai de pé, e corre deitada.
E poucos, como eu, que já nadaram na enxurrada, sabem disso.
Eu nadei no meio fio, na enxurrada da sarjeta, e sobrevivi.
Eu fui criança sob a chuva.
Por isso, quando chove, me molha a alma.
Ela é geladinha quando pinga nas costas, refresca a cabeça.
E ela conecta tudo numa coisa só, eu, você, o mato, a terra,
E tudo mais que está molhado de chuva vira uma coisa só.
A chuva tem um barulhinho de um monte de toc, toc, tudo juntinho,
Um monte de gente rindo ao mesmo tempo, aplausos.
Nossa. Quantos barulhinhos tem a chuva.
Os pingos vão se juntando no chão, ficam grandões, e viram poça.
E a gente pula com força na poça, como em um mergulho instantâneo,
Que cada gota foge da poça, e se acode respingando na senhora,
E se acode respingando na moça, escorre pelo tempo de uma perna,
De um sapato, e outra vez vira poça.
E a chuva faz brotar tanta coisa, faz brotar a comida, a flor que cativa.
A chuva é assim, atrevida, se joga por cima de tudo.
A chuva é tão corajosa, que enfrenta o próprio guarda da chuva, e molha o pé da gente.
A chuva molha até o vento, e o vento, molhado, congela ela.
É, ela molha o vento, e quando ela molha o vento, pinta o arco-íris.
Ela não vem assim, do nada, tem uma dança pra chamar a chuva.
E o trovão, o trovão é o grito grave da chuva.
E o relâmpago, o relâmpago é o brilho da chuva.
A chuva é tão docinha quando escorre do lábio e encosta na língua.
As nuvens são a casa da chuva, e, quando elas crescem, vão embora chover.
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