OS DOIS CUZÕES

Quando eu cheguei, os dois pararam de falar, estavam falando de alguma coisa sobre a minha personalidade. Eu fingi que nada estava acontecendo. Passamos um dia normal, eu no meu cantinho, eles também, cada um no seu cantinho.

No dia seguinte, fiquei a espreita. Chegou um, depois chegou o outro, tomaram ambos uma água. Um comentou:

– Tá quente pra caralho essa água.

– Esse cara é um filho da puta. – disse o outro.

– E essa merda é muito estreita, meu bigode fica raspando. Olha aqui, tá vendo? Tá vendo como raspa meu bigode? – o outro vem até ele e verifica que o bigode fica mesmo raspando e diz:

– Que cuzão. É muito cuzão. – ele senta, começa a se coçar, e continua metralhando: – Eu não tomo um banho já tem mais de um mês.

– E quando eu sento naquela bosta de sofá? Só falta me arrancar a cabeça com um tapa.

– Você ainda senta no sofá. Já viu quando eu piso naquele tapete? É cada grito.

– Viadão do caralho.

– Arrombado.

E davam risada da minha cara.

Já tem uma semana que deixei meu gato sem água, e meu cachorro sem ração.

Se podem ficar me xingando, também podem se virar sozinhos. Eu também não vou ser escravo, não.

Agora, ficam me olhando com aqueles olhinhos marotos. Sabe o que eu fiz? Mandei os dois tomar no cú.

Fernando Fortuna

Publicitário, escritor, cineasta, músico. Pois bem, amante das artes e dos movimentos filosóficos da alma. Noite Literal é o meu quintal celestial. É neste espaço que pretendo trocar energias com você.

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