CANTA, GALO. GALO, CANTA

 

O galo canta. Acorda cedo, e canta.
Ele não sofre, não lamenta, e abre a garganta.
O galo não ri feito otário, ele é sério.
O galo enfrenta o silencio, e canta alto.
Ouve-se, ao longe, o galo cantar.
O galo é o amante faceiro da galinha.
O galo canta para abrir a janela da manhã e a porta do dia.
Ele desamarra a noite da madrugada.
O galo desperta em poesia.
O galo cantou, e o universo rompeu em luz.
O galo é todo peito, é forte.
E não tem outro jeito: ele canta e lança a sorte.
O galo novo, o galo velho.
O galo de Pedro, no evangelho, canta três vezes em mistério.
O galo do mal, o galo do bem, da vigília de Jerusalém.
Apesar das penas, ele não pena.
O galo não é esporádico, apesar da espora.
O galo morre, mas não chora,
E alimenta a quem o devora.
Canta, galo. Canta agora. Canta de janeiro a janeiro.
Canta, porque é hora de fazer poeira no terreiro.
Canta, galo. Galo, canta.

Fernando Fortuna

Publicitário, escritor, cineasta, músico. Pois bem, amante das artes e dos movimentos filosóficos da alma. Noite Literal é o meu quintal celestial. É neste espaço que pretendo trocar energias com você.

Leia também

COMENTE!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *