Foi uma passagem bem rápida pela vida. Tempos modernos. Mas, sinceramente, ele já estava de saco cheio de tudo. E um dia a mais faria toda a diferença, porque seria insuportável.
Pense em todo tipo de tortura que você possa imaginar.
Começou com a visita ao médico, que estava mais preocupado em ser um bosta d’um burguês, do que um cara realmente maravilhado com a arte de colaborar com os avanços da medicina.
Então, uma visita ao dentista, que nem atentou para a gengivite galopante, desempenhou maravilhoso papel de vendedora e socou no seu cú um clareamento dental em duas fases: a caseira e a laser. – tudo pela bagatela de mil lascas. Uga, uga até morrer.
Uma tecnologia via satélite detectou uma nova construção em seu quintal, um barraco de papelão para a filha brincar com as bonecas, mas a secretaria de fazenda considerou área construída, e socou no seu cú mais cem por cento de IPTU. Uga, uga até morrer. Mas, misteriosamente, a tecnologia não detectava os barracos que surgiam todos os dias nos canteiros do Eixo Monumental, Asa Norte, Asa Sul. A tecnologia não servia para orientar a assistência social a acudir as famílias, homens, mulheres e crianças, e devolver a eles a esperança de um lar, e comida no prato três vezes ao dia (o que não é um favor, mas obrigação do Estado). Não, a tecnologia é para botar mais um pouco no seu cú. Uga, uga até morrer.
Não chegou a ver a lei federal que mandava trocar os extintores veiculares por outros “mais modernos”, e aí nem tinha extintor pra todo mundo. Poucos dias depois se decretou que veículos, de extintor, não mais precisam. Não viu essa, não. Morreu antes vitima de um mini AVC. Nem precisa de um dos grandes. Uga, uga até morrer.
Quem lhe matou foram os sócios do Estado. Este Estado cafetão. Ele mesmo me disse isso, segurando minha mão, e completou: – Chega dessa vida, desse contrato social, e dessa gente imunda que acorda todo dia, pensando numa maneira, a forma que mais judia para foder a minha bunda. – e morreu.
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